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Ainda sobre o poder, homens, mulheres e sobre voltar a confiar…

Seja como for, é conveniente estendermos o olhar, de um modo mais amplo, para o fato de que tanto homens quanto mulheres são afetados por um mal maior, por uma praga emocional de maior alcance que nos mantém doentes em nossa humanidade, que vem da expulsão do paraíso comunitário e tribal de nossos antepassados caçadores-recoletores, para passar à mente patriarcal na qual estamos culturalmente submersos, e que quase confundimos com nossa natureza, na qual o outro já não é um irmão, e sim um inimigo. Vivemos mergulhados em um paradigma competitivo que julgamos natural, infectados como estamos pela grande importância do eu pessoal. No livro La mente patriarcal, Claudio Narrando faz um diagnóstico preciso dos males do mundo: é essa mesma mente patriarcal, com seus longos braços que infectam tudo – a concorrência, a luta, a imposição, a inveja e todas as paixões baixas que governam o eu -, que, em sua pretensa grandeza, esquece a verdade essencial de que todos somos um. Um dos antídotos contra a mente patriarcal consiste na feliz integração da tríade básica e cada um: pai, mãe e filho, ou mente, emoção e instinto, e não no predomínio de uma figura sobre as outras.

Voltando ao tema de homens e mulheres, depois de ter feito a mesma pergunta muitas vezes, com idênticos resultados, cheguei a uma conclusão: se tantas mulheres acreditam intimamente que são melhores que os homens, talvez devamos aceitar que seja verdade, que elas guardam uma grandeza maior por conta de sua íntima conexão com a vida. E também fiz uma descoberta agregada: as mulheres mais inteligentes tomam cuidado para que os homens não notem tanto sua grandeza, para não dizer sua superioridade, ou seja, usam-na a favor do amor e do bem-estar compartilhado. A maioria das mulheres sabe que em algum momento terá de cuidar de alguma fragilidade dos homens, que os homens também quebram, que a aparência de força deles é só isso, aparência. É que emocionalmente o homem parece muitas vezes mais ignorante, dependente e vulnerável que a mulher, mas nem por isso tem menos coração. A genuína grandeza se encontra, para todos por igual, na vivência e integração de todas as nossas instâncias internas: mente racional, sentimentos, instinto, intuição e transcendência ou mente espiritual. Mas para não faltar à verdade, tenho de dizer que em muitos momentos cabe aos homens também apoiar as mulheres, com toda sua empatia e força, por conta das fraquezas e sofrimentos emocionais delas.

Na luta de poder que às vezes ocorre, algumas mulheres brigam pelas mulheres anteriores. Sua luta é, na realidade, aquela que as mulheres que as precederam não puderam travar com seus homens. Em algumas culturas até lhes é negado o estatuto de seres humanos em igualdade de condições. Foram controladas e subjugadas, de modo que, quando olhamos para o passado, quando cada mulher olha para trás, além do tempo de sua vida, certamente encontra muitas outras que sofreram nas mãos dos homens, que se sentiram subjugadas, humilhadas e não respeitadas, que tiveram de se sacrificar e enganar e que não viveram a companhia masculina como um amigo em quem confiar, mas o contrário. E também muitos homens, quando olham para trás, encontram outros homens que não puderam estar em paz nem sentir confiança nas mulheres, que lutaram contra elas, ou as prejudicaram com sua arrogância e autoritarismo, e por isso se sentem afetados, por uma culpa que não lhes pertence. Por isso quando os homens conseguem reconhecer e respeitar a culpa dos homens anteriores, e as mulheres conseguem reconhecer e respeitar a raiva das mulheres anteriores, podem ver uns aos outros de um lugar mais atualizado. E, então, começar a confiar…

Trecho extraído do livro “O amor que nos faz bem. Quando um e um somam mais que dois” (Joan Garriga)

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