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O corpo como santuário da alma

Somos seres experienciais e a sutil substância de nossa experiência é produzida em nosso corpo. No corpo vivemos sensações, sentimentos, pensamentos e também a presença do transcendente. Ele é o laboratório pelo qual a Alma se expressa e experimenta, um presente material para nossa singular viagem pessoal a Ítaca. A residência do biológico, o hormonal, o instintivo: nosso santuário.

No corpo nos comprometemos com a grande inteligência que o governa, como refinamento e  conquista de milênios e milênios nos quais nossa espécie preservou e fez a vida evoluir. O corpo é a casa da vida e o legado primordial de nossos pais e ancestrais, que por meio dele nos passam uma vasta e útil informação.

O corpo não questiona a si mesmo. Segue regras de sua própria natureza. Nós, com nossa vontade, tentamos às vezes guiá-lo de acordo com nossas ideias, que nem sempre estão em consonância com suas necessidades. Por acaso o corpo está insatisfeito com si mesmo? É inimigo de suas doenças, quando na realidade ele mesmo as cria, as acolhe e até as leva à própria morte? Por acaso o corpo está contra ele mesmo?

O corpo é feliz quando é apreciado e respeitado, mimado e cuidado, quando é habitado com gratidão, como uma casa a qual damos nosso toque pessoal e a convertemos no reflexo do que somos. Todos temos a experiência de ir à casa de um amigo ou amiga e descobrir contentes que o espaço que habita lhe cai bem ou não. Ou, ao contrário, sentir que é um artifício, que com ela tenta parecer outro que não é.

A natureza tem prioridade sobre a mente individual, que é uma mente mais sábia e vasta na qual podemos descansar. O ponto é sintonizar nossa mente individual, nosso pensamento e vontade com a mente natural, com o que a natureza cria e organiza, tal como é. O primeiro passo para a sintonia é escutar e compreender o corpo. O segundo é deixá-lo viver em conexão com seus desejos mais profundos e com o que para cada um é natural e harmonioso.

Há muitas formas de nos sintonizarmos com nosso corpo. […]

Coloque-se em contato com a parte de seu corpo que sinta dor ou que incomode, a reconheça, a permita, a amplie inclusive, imagine que você se converte nela. Dessa maneira, você descobre que forma tem, que tendência ou impulso, quem parece quando se converte em seu rim dolorido ou na dor de costas ou no desafio de seu rosto. E também o que lhe diss, qual é sua mensagem, com o que tem de contribuir, pedir, rogar, exigir, agradecer, censurar.

Talvez (e essa é uma dinâmica muito comum quando se trata de doença) o membro dolorido ou o incômodo seja uma forma de conexão com alguém que não consegue se integrar. Frequentemente o corpo faz o trabalho que não fazemos, ama quando nós depreciamos. Certos sintomas ou doenças são tentativas de nos colocarmos em consonância com aqueles com quem estamos em dissonância. Frequentemente o corpo vive o outro lado dos assuntos que não nos animamos a viver abertamente: expressamos valor e força, mas o corpo se rompe como um passarinho que treme vulnerável e pede proteção.

Trecho extraído do livro “Viver na Alma” (Joan Garriga)

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