Sim à vida
“Os mais felizes são os bons marinheiros, que sabem receber o tempo ruim e construir a vida sobre a contrariedade. Os mais infelizes se aferram aos problemas para justificar que vivem menos. Os mais felizes são os que conseguem a aceitação, o grande SIM à existência. Na verdade, se tivéssemos que reduzir o que ajuda a uma só compreensão, poderia ser resumida a um inquebrantável ‘Sim à Vida’. Cada vez que você ou alguém conhecido tenha alguma dificuldade, você pode perguntar a quem ou a que está falando ‘não’, você pode perguntar o que não consegue integrar e amar. Dizer ‘não’ é uma tentativa legitima de escapar da dor, da culpa, da vergonha ou da indignidade, mas é bom você saber que o ato de fugir tece enormes sombras.”
Joan Garriga
(Trecho extraído do livro: “La llave de la buena vida”, 2014, Ed. Planeta, ainda não publicado em Português, tradução livre de M. Natalia M. H. Kopacheski)
Paz interior
“Bem-aventurados os que se encontram em paz consigo. Felizes os que deixaram de brigar com si mesmos, com algumas partes interiores ou alguns eus inoportunos, que se apresentavam algumas vezes como hóspedes enfadonhos, inesperados e sem convite, perturbando sem reflexões as cenas da vida, na forma de ciúmes, inveja, rancor, queixa, grito, violências, etc. Bem-aventurados, pois, os que já não precisam evitar nenhum de seus aspectos internos, nada do que os constitui, nem sequer o que sentem como aborrecimento, inadequado, desagradável, o que em algum momento parece difícil de suportar. Trabalharam neles mesmos. Têm se esforçado para compreender e integraram o aparentemente evitado. O que lhes parecia escuro e pesado fizeram brilhar como aplicável e dourado. Submeteram-se ao desafio da alquimia interior e foram transformados: o que aparentemente era negativo se converteu em recurso para a graça de sua aceitação, a grande chave-mestra.”
(Joan Garriga, trecho extraído do livro “Viver na alma, amar o que é, amar o que somos e amar os que são”)
Quem sou eu?
“Quem sou eu? Essa é uma pergunta crucial que, em diversos momentos ao longo da vida, todos nós nos fazemos, e cuja resposta se desdobra em sucessivas camadas de pensamento e, acima de tudo, de experiência e compreensão interior.
O grande sábio hindu Ramana Maharshi propunha manter a constante dessa pergunta, como eco em todo o nosso ser, como exercício de indagação para acessar a verdade interior definitiva. Confrontado como tal pergunta, o indivíduo costuma inicialmente responde-la de maneira tão automática como periférica à sua verdadeira natureza. Responde aquilo que acredita que é, conceitos com os quais se identifica, seu modo de ser, sua empatia de sexo, posição social, papéis como filho, pai ou esposo. Responde com meros atributos de si próprio. É o que podemos denominar de autoconceito e atributos de identificação pessoal e social; em definitivo, o que habitualmente chamamos de ‘a identidade’. Pelo menos a identidade histórica e conceitual.
Essa identidade resulta do conjunto de experiências físicas, emocionais e mentais, valores e identificações, traços, crenças e características pelas quais nos reconhecemos como indivíduos singulares. […]
No entanto o objetivo da pergunta ‘quem sou eu?’ é descobrir que não é possível encontrar uma identidade fixa e definitiva, que o mundo das identificações, as experiências e as formas estão em constante movimento. Tudo muda e tudo se move. Nossos pensamentos vão e vem, nossos sentimentos também, nossos condutas são inconstantes. Nossos papéis, que parecem tão fixos, ser mãe, por exemplo, ou primo, ou chefe, carecem da força de uma identidade realmente essencial. Inclusive ser homem ou mulher, que parecem identificações tão sólidas, biológicas e definitivas, não deixam de ser categorias conceituais ao mesmo tempo em que são simples veículos que a vida designa para casa um. Além disso, são fenômenos que desenham um traje para se viver, mas não nos diz nada sobre o alfaiate nem a fonte que tudo cria. Não respondem ao essencial.” (Joan Garriga)
Sobre o dar e o tomar
“Há quem possa pensar e até dizer: ‘Eu daria tudo por você, porque o amo tanto, tanto, que sem você não há vida para mim’. Isso pode parecer muito romântico, mas é um presente ou uma carga? Sem esquecer que com freqüência, como eu dizia antes, o doador compulsivo se coloca em um lugar de superioridade e esconde sua necessidade de receber, para manter o outro dependente e sob controle, fazendo-o se sentir necessitado, e defendendo isso como amor absoluto. Às vezes, é melhor que não nos amem tanto, mas que nos queiram bem, menos quantidade e mais qualidade.
Conta-se a história de uma pessoa que se sentia tão cheia de amor, de dons e de bens que queria dar tudo, absolutamente tudo, pois sua generosidade era imensa. Um dia, ela teve uma experiência de êxtase espiritual, sentiu que podia falar com Deus, e disse: ‘Quero dar tudo aos outros, absolutamente tudo, até a última gota do meu sangue’. Então Deus disse: ‘Que entrem os vampiros’. Conclusão: a respeitosa dança do dar e tomar no relacionamento nutre e fortalece, e afasta de seu santuário interpessoal tanto as tentações de sacrifício e pseudossantidade quanto as de vampirismo e dependência”.
Joan Garriga
(Trecho extraído do livro “O amor que nos faz bem, quando um e um somam mais que dois”)
Ritmos da vida
“Qualquer pessoa que tenha vivido o suficiente sabe que a vida traz coisas que não escolhemos, e que da mesma forma outras vezes nos satisfaz e traz coisas que desejamos ardentemente. Que com nossa vontade convivem o acaso, o mistério e a incerteza. Que a vida tem seus próprios propósitos, às vezes estranhos, quase incompreensíveis, que vão além dos nossos desejos pessoais. Por isso, nossa vida como seres humanos consiste em procurar nossa felicidade investindo fortemente naquilo que nos move, que queremos e desejamos, mas ao mesmo tempo em desenvolver receptividade e sintonia com o que a vida quer, traz e exige, seja o que for. […]
Portanto, a grande felicidade consiste em estarmos em sintonia com o que a vida nos traz, mesmo que não se encaixe com nossos desejos pessoais. Estar em sintonia significa aceitá-lo, amá-lo, aproveitá-lo como nutriente, como mensageiro de outra sabedoria maior. Para algumas pessoas a vida traz um divórcio, uma separação, uma frustração em um projeto amoroso, filhos desejados que não veem, filhos indesejados que veem, a reabertura de certas feridas, etc., e, então, precisam se perguntar como entrar em sintonia com o que ocorre, não com o que imaginam que deveria ocorrer.”
Joan Garriga (Trecho extraído do livro “O amor que nos faz bem, quando um e um somam mais que dois”).
Parceria Sim à Vida com Azahar SPA
Estamos muito felizes em anunciar que o Azahar SPA é parceiro do Sim à Vida no workshop com Joan Garriga em Campinas dias 9 e 10 de Novembro no Hotel Vitória Concept.
O Azahar cuidará da harmonia do ambiente com óleos essenciais e preparará um cantinho do bem estar no evento. Sabemos que juntos crescemos e somos melhores. Estamos muito felizes com esta parceria e comemoramos com você! www.simavida.com.br http://campinas.azaharspa.com.br
Amar os pais, amar os filhos
“Gostaria de explicar uma curiosidade. Em muitos grupos fiz uma pesquisa improvisada, perguntando quem não se sentiu suficientemente (ou bem) amado por seus pais. Você pode imaginar o resultado? Sim, muitos costumam levantar a mão. Em seguida, pergunto sobre quantos dos que são pais diriam que não amam suficientemente (ou suficientemente bem) seus filhos. Quase ninguém levanta a mão. Não são necessários grandes conhecimentos de cálculo para deduzir que os números não batem.
No meu ponto de vista, há apenas uma explicação para isso, e ela é de ordem cultural: tem-se privilegiado o questionamento dos pais, dando asas talvez a um movimento necessário para transitar de uma cultura excessivamente patriarcal para outra de caráter filial. Entretanto, todos os extremos precisam se corrigir, e a atual ditadura moderna de caráter filial debilita tanto os filhos como os pais. Confunde ambos. Além disso, ao se acentuar a encenação acusatória contra os pais, perpetua-se a tendência vitimista e irresponsável dos filhos, enquanto os pais sofrem desnecessariamente em um amargo acúmulo de culpas. Os pais por sua vez também entraram em um código cultural imperante, autoperseguidor, de que deveriam ser melhores, mais perfeitos.
Há outra razão poderosa que pode nos levar a dar início à tarefa de restaurar o amor por nossos pais: só conseguimos amar a nós mesmos quando amamos e honramos nossos pais. No mais profundo de cada um de nós, por mais graves que sejam as feridas, nós, filhos, seguimos sendo leais a nossos pais, e inevitavelmente os tomamos como modelo e os interiorizamos. De algum modo nos conectamos a uma força que nos faz ser como eles. Por isso, quando somos capazes de amá-los, honrá-los, dignificá-los e respeitá-los, podemos fazer o mesmo com a gente mesmo e ser livres.”
(Trecho extraído do livro “Onde estão as moedas, as chaves do vínculo entre pais e filhos”, Joan Garriga, 2011)
Uma nova oportunidade
“Diz uma velha história oriental que, quando Deus criou o homem e a mulher, ele o fez em um só corpo, de modo que ambos desconheciam o sentimento de solidão e de carência. Estavam juntos, fundidos, completos e eram felizes. Mas logo surgiram dificuldades. Às vezes, o homem queria caminhar para o oeste e a mulher para o leste. Às vezes, o homem queria deitar para descansar e a mulher queria continuar caminhando. Por conta disso, começaram a brigar, até que um dia pensaram: não seria melhor nos separarmos? Então, foram falar com Deus e lhe disseram: – O senhor seria misericordioso e nos daria dois corpos?
E Deus, que efetivamente é misericordioso, concordou. E ao homem deu um corpo de homem, e à mulher um corpo de mulher. Ambos se sentiram muito felizes com seu novo corpo. Cada um podia avançar na direção que queria, de modo que um dia o homem começou a caminhar para o oeste e a mulher para o leste. Mas, quando já caminhavam havia um tempo em direções opostas, sentiram uma ponta de desânimo, pois sentiam falta um do outro, e perceberam que se necessitavam. Fizeram o caminho contrário e correram para se encontrar de novo. O mesmo episódio aconteceu várias vezes: quando estavam juntos durante um tempo, tornavam a sentir a necessidade de caminhar cada um para um lado; mas, quando o faziam, sentiam aquele mal-estar, de modo que faziam o caminho contrário para se reencontrar.
Assim, diz a lenda, estão há muitos anos, e ainda não conseguiram resolver o problema. Querem pedir a Deus que os ajude, mas não sabem o que pedir. Vivem em tensão, no anseio de ser um e no anseio de ser dois, em um conflito não resolvido que já faz parte de sua natureza.
Todas as pessoas experimentam as duas necessidades, de união e de independência, mas em graus e maneiras diferentes. Assim, encontramos pessoas altamente voltadas para a fusão com o outro, e outras, para a autonomia. Costuma-se dizer que no relacionamento um tem a energia centrípeta e o outro a centrífuga, um olha para dentro e o outro para fora. Cada casal negocia como satisfazer essas necessidades em ambos, respeitando suas tendências e estilos pessoais.
Muitos fracassos no relacionamento se devem a uma má conjugação da satisfação dessas necessidades; por isso, quando nos dirigimos a um novo relacionamento, é de grande ajuda ter clareza das próprias necessidades e tendências, de maneira que possamos encontrar uma pessoa com quem sintonizemos sem graves conflitos.
É óbvio que os extremos geram dificuldades especiais. Algumas pessoas se perdem na fusão, pois temem encontrar a si mesmas, e outras se perdem no excesso de independência, pois temem se diluir no outro. Em ambos os casos convém que trabalhem consigo mesmas, talvez terapeuticamente, para flexibilizar suas posições, pois nenhum extremo é bom.
Cada nova relação é uma nova oportunidade de recuperar o vínculo original, de ter acesso ao aroma do um e indiviso prelúdio de um vínculo de amor, e que em muitos casais se concretiza no real, na poderosa união de almas que experimentam, ou por meio dos filhos. As segundas ou terceiras relações são também uma nova oportunidade para amar melhor, e especificamente para combinar a paixão com a clara percepção de como é o outro, para abrir os olhos e ver. Para caminhar rumo à unidade na clara percepção das diferenças.”
(Trecho extraído do livro “O Amor que nos faz bem”, Joan Garriga, 2014)
Reverência
“É preciso dizer também que a maioria dos pais querem bem seus filhos, mesmo que em algumas ocasiões não consigam, devido à própria dor, expressa-lo e vivê-lo de maneira que o filho se sinta bem. Tomara que esses filhos possam se desenvolver bem e dessa maneira dar algo bom à própria história familiar.
Na prática budista de ‘tocar a terra’, descrita pelo monge vietnamita Thich Nhat Hanh, há uma reverência em agradecimento aos antepassados que diz o seguinte: ‘Vejo que a origem de minhas raízes procede de meu pai, de minha mãe, de meus avôs, de minhas avós e de todos os meus antepassados. Sei que sou apenas a continuação dessa linhagem ancestral. Por favor, me apitem, me protejam e me transmitam vossa energia. Sei que one quer que os filhos e netos estejam, os antepassados também estão ali. Sei que os pais amam sempre e apoiam seus filhos e netos, ainda que nem sempre sejam capazes de expressá-lo de modo eficaz por culpa das dificuldades que tiveram. Vejo que meus antepassados tentaram construir um modo de vida baseado na gratidão, na alegria, na confiança, no respeito e no amor compassivo. Como continuação de meus antepassados, me prostro profundamente e permito que suas energias fluam através de mim.”
(Trecho extraído do livro “Onde estão as moedas”, Joan Garriga, 2011)