Uma nova oportunidade

“Diz uma velha história oriental que, quando Deus criou o homem e a mulher, ele o fez em um só corpo, de modo que ambos desconheciam o sentimento de solidão e de carência. Estavam juntos, fundidos, completos e eram felizes. Mas logo surgiram dificuldades. Às vezes, o homem queria caminhar para o oeste e a mulher para o leste. Às vezes, o homem queria deitar para descansar e a mulher queria continuar caminhando. Por conta disso, começaram a brigar, até que um dia pensaram: não seria melhor nos separarmos? Então, foram falar com Deus e lhe disseram: – O senhor seria misericordioso e nos daria dois corpos?

E Deus, que efetivamente é misericordioso, concordou. E ao homem deu um corpo de homem, e à mulher um corpo de mulher. Ambos se sentiram muito felizes com seu novo corpo. Cada um podia avançar na direção que queria, de modo que um dia o homem começou a caminhar para o oeste e a mulher para o leste. Mas, quando já caminhavam havia um tempo em direções opostas, sentiram uma ponta de desânimo, pois sentiam falta um do outro, e perceberam que se necessitavam. Fizeram o caminho contrário e correram para se encontrar de novo. O mesmo episódio aconteceu várias vezes: quando estavam juntos durante um tempo, tornavam a sentir a necessidade de caminhar cada um para um lado; mas, quando o faziam, sentiam aquele mal-estar, de modo que faziam o caminho contrário para se reencontrar.

Assim, diz a lenda, estão há muitos anos, e ainda não conseguiram resolver o problema. Querem pedir a Deus que os ajude, mas não sabem o que pedir. Vivem em tensão, no anseio de ser um e no anseio de ser dois, em um conflito não resolvido que já faz parte de sua natureza.

Todas as pessoas experimentam as duas necessidades, de união e de independência, mas em graus e maneiras diferentes. Assim, encontramos pessoas altamente voltadas para a fusão com o outro, e outras, para a autonomia. Costuma-se dizer que no relacionamento um tem a energia centrípeta e o outro a centrífuga, um olha para dentro e o outro para fora. Cada casal negocia como satisfazer essas necessidades em ambos, respeitando suas tendências e estilos pessoais.

Muitos fracassos no relacionamento se devem a uma má conjugação da satisfação dessas necessidades; por isso, quando nos dirigimos a um novo relacionamento, é de grande ajuda ter clareza das próprias necessidades e tendências, de maneira que possamos encontrar uma pessoa com quem sintonizemos sem graves conflitos.

É óbvio que os extremos geram dificuldades especiais. Algumas pessoas se perdem na fusão, pois temem encontrar a si mesmas, e outras se perdem no excesso de independência, pois temem se diluir no outro. Em ambos os casos convém que trabalhem consigo mesmas, talvez terapeuticamente, para flexibilizar suas posições, pois nenhum extremo é bom.

Cada nova relação é uma nova oportunidade de recuperar o vínculo original, de ter acesso ao aroma do um e indiviso prelúdio de um vínculo de amor, e que em muitos casais se concretiza no real, na poderosa união de almas que experimentam, ou por meio dos filhos. As segundas ou terceiras relações são também uma nova oportunidade para amar melhor, e especificamente para combinar a paixão com a clara percepção de como é o outro, para abrir os olhos e ver. Para caminhar rumo à unidade na clara percepção das diferenças.”

(Trecho extraído do livro “O Amor que nos faz bem”, Joan Garriga, 2014)

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