Relacionar-se
Vivemos um momento de abertura e, ao mesmo tempo, de desconcerto, sobre como podem ou devem ser os relacionamentos afetivos; e, nesse sentido, o que abordo – como se verá ao longo do livro -, situa-se em uma perspectiva de liberdade e de respeito, de fazer e deixar fazer. As pessoas não têm de comungar com dogmatismo de nenhum tipo, nem devemos nos sentir culpados por não fazê-lo. Há muita gente que sofre por não se encaixar em um esquema de suposta normalidade.
Há alguns anos escrevi: “Imaginemos um mundo no qual, por exemplo, a velhice, a doença, a timidez, a morte, o sofrimento inevitável, sejam bem vistos e façam parte respeitável do viver na mesma medida que seus contrários, a juventude, a saúde, a expressividade, a vitalidade e o prazer inevitável. Muitas pessoas sofrem ainda a pressão de não se encaixar naquilo que conviemos avaliar como bom; mas quem é capaz de afirmar que uma coisa é melhor que outra, que uma vida, por exemplo, é melhor que outra?”. A vida é felizmente, muito ampla e variada, e cada um tem suas predisposições e suas singularidades. Algumas pessoas são feitas para viver com o mesmo parceiro a vida toda; outras, para ter dez amantes ao mesmo tempo, e outras para ser padres ou freiras. Umas gostam de pessoas do mesmo sexo, e outras pessoas do sexo oposto. Cada um deve respeitar seu original jeito de ser, até mesmo suas próprias neuroses ou tendências condicionadas – embora deva trabalhar para modifica-las -, e não ficar tentando, de todas as maneiras possíveis se encaixar em um modelo ideal de relacionamento afetivo. O importante é a aceitação amorosa de si mesmo e da própria singularidade. E cada um pode encontrar regozijo no respeito a sua própria natureza e ser feliz seguindo-a. […]
Minha experiência me diz que nos relacionamentos afetivos não existem bons e maus, culpados e inocentes, justos e pecadores. O que existem são relacionamentos bons e ruins: relações que nos enriquecem e outras que nos empobrecem. Existem felicidade e infelicidade. Existem o amor que nos faz bem e o amor que não nos faz bem. É que não basta o amor para garantir bem-estar: é necessário um amor que nos faça bem. E reconhecemos este amor porque nele somos exatamente nós mesmos e deixamos que o outro seja exatamente como é, porque ele se orienta ao presente e ao que está por vir, em vez de nos amarrar ao passado; e especialmente porque gera bem-estar e realização.
Trecho extraído do livro: “O amor que nos faz bem – Quando um e um somam mais que dois”, Joan Garriga.
Deixe uma resposta
Want to join the discussion?Feel free to contribute!