Sobre se sentir bem sucedido e valioso
“Todos nós gostamos de ganhar e de nos sentirmos bem-sucedidos e valiosos, claro; e todos os pais desejam que seus filhos atravessem as portas do ganhar. Mas é uma aposta de vida muito arriscada fazer todo o nosso bem-estar e felicidade dependerem de as coisas serem como desejamos, de estarmos sempre ganhando, sempre em expansão, sempre no brilho do sucesso.
Por outro lado, quando tudo vai muito bem as pessoas correm o importante perigo de se envaidecer e se endeusar. Caem facilmente na versão malsã do orgulho inflado de si mesmas. Às vezes, encontro pessoas que tiveram sucesso muito rápido e muito jovens, e penso: ‘Coitadas! Será que sabem lidar com isso e sobreviver? Sua alma ficará a salvo de suas conquistas?’. Porque correm o risco de se confundir, acreditando demais que são especiais e que seu sucesso se deve a méritos próprios, em vez de saber que são só instrumentos de uma vontade maior que as toma a seu serviço; ou que se trata de um presente ou um empréstimo, se não de um acaso da vida. Talvez não consigam perceber que o verdadeiro sucesso não é ganhar, e sim servir, isto é, pôr à disposição da vida nossos talentos e capacidades. Talvez não compreendam que somos instrumentos, e não metas, e que aquele que chamamos de ‘eu’ e consideramos nossa identidade é insignificante na gigantesca circunferência das coisas. Podem se identificar com o ganhar e com uma ideia tão inflada de si mesmas que perdem o contato com o jogo real da vida e com a ideia fundamental de que tudo é passageiro.”
Trecho extraído do livro “A chave para uma boa vida” Joan Garriga, 2017. Ed. Academia
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