Amar os pais, amar os filhos
“Gostaria de explicar uma curiosidade. Em muitos grupos fiz uma pesquisa improvisada, perguntando quem não se sentiu suficientemente (ou bem) amado por seus pais. Você pode imaginar o resultado? Sim, muitos costumam levantar a mão. Em seguida, pergunto sobre quantos dos que são pais diriam que não amam suficientemente (ou suficientemente bem) seus filhos. Quase ninguém levanta a mão. Não são necessários grandes conhecimentos de cálculo para deduzir que os números não batem.
No meu ponto de vista, há apenas uma explicação para isso, e ela é de ordem cultural: tem-se privilegiado o questionamento dos pais, dando asas talvez a um movimento necessário para transitar de uma cultura excessivamente patriarcal para outra de caráter filial. Entretanto, todos os extremos precisam se corrigir, e a atual ditadura moderna de caráter filial debilita tanto os filhos como os pais. Confunde ambos. Além disso, ao se acentuar a encenação acusatória contra os pais, perpetua-se a tendência vitimista e irresponsável dos filhos, enquanto os pais sofrem desnecessariamente em um amargo acúmulo de culpas. Os pais por sua vez também entraram em um código cultural imperante, autoperseguidor, de que deveriam ser melhores, mais perfeitos.
Há outra razão poderosa que pode nos levar a dar início à tarefa de restaurar o amor por nossos pais: só conseguimos amar a nós mesmos quando amamos e honramos nossos pais. No mais profundo de cada um de nós, por mais graves que sejam as feridas, nós, filhos, seguimos sendo leais a nossos pais, e inevitavelmente os tomamos como modelo e os interiorizamos. De algum modo nos conectamos a uma força que nos faz ser como eles. Por isso, quando somos capazes de amá-los, honrá-los, dignificá-los e respeitá-los, podemos fazer o mesmo com a gente mesmo e ser livres.”
(Trecho extraído do livro “Onde estão as moedas, as chaves do vínculo entre pais e filhos”, Joan Garriga, 2011)
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