Melhor e pior: conceitos da mente

Uma das grandes proezas a que o relacionamento afetivo nos convida consiste no progressivo desenvolvimento da experiência de igualdade real entre ambos. Sei que muitas pessoas se consideram em igualdade de categoria com seu parceiro, mas aqui não estou falando de ideologia, e sim de experiência real, profunda e verdadeira. Estou falando de nossa verdade interna. Sabemos que, se as boas intenções dessem bons resultados, o mundo seria um lugar mais agradável. E que se o os bons pensamentos dirigissem o mundo, haveria menos sofrimento. Contudo, o que toma a dianteira e domina nossa vida é a verdade real sobre nós mesmos e nossos sentimentos e vivências íntimas, não nossa ideologia. Quantos afirmam ideologicamente que se sentem iguais ao parceiro e, a seguir, desqualificam, por exemplo, suas origens ou seu entorno, ou seu comportamento? Quantos, no sentido oposto, criticam a si mesmos em um indigno alarde de baixa autoestima, de autorrebaixamento?

Uma grande proeza interior para todos consiste em compreender que “melhor” e “pior” são conceitos da mente, não da realidade; compreender que o pleno respeito se mostra quando sentimos que o outro, qualquer que seja ele, é estritamente idêntico a nós perante a vida; quando compreendemos que o outro também é aquecido pelo mesmo sol e refrescado pela mesma chuva, independentemente de sermos justos ou pecadores, como reza o Evangelho. […] Não é um equilíbrio fácil. As vezes, por amor ao companheiro, um dá pouco mais que o outro e, assim, esta pessoa corre o risco de ficar menor na relação. Entretanto, também pode ser aconselhável que, por verdadeiro amor, se dê um pouco menos, em função daquilo que o outro pode receber e devolver dentro de suas possibilidades. É conveniente cuidar bem desse assunto e evitar o que poderíamos chamar de “os males do dar”, que veremos mais para frente. Se um dá muito e o outro pode receber ou devolver pouco (embora talvez exija muito), criam-se frustração e desigualdade e, então, em um sentido profundo, pode já não haver relacionamento, mas sim faltar paridade. “Não caminhe na minha frente, eu posso não segui-lo. Não caminhe atrás de mim, eu não posso conduzi-lo. Apenas caminhe ao meu lado e seja meu amigo”, escreveu Albert Camus. E poderíamos acrescentar: “Não caminhe acima de mim, posso perder-lo de vista, e nem abaixo de mim, pois posso pisar em você; caminhemos juntos, lado a lado”. Isso é igualdade.

Joan Garriga Bacardí “O amor que nos faz bem”

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