Sobre o dar e o tomar

“Há quem possa pensar e até dizer: ‘Eu daria tudo por você, porque o amo tanto, tanto, que sem você não há vida para mim’. Isso pode parecer muito romântico, mas é um presente ou uma carga? Sem esquecer que com freqüência, como eu dizia antes, o doador compulsivo se coloca em um lugar de superioridade e esconde sua necessidade de receber, para manter o outro dependente e sob controle, fazendo-o se sentir necessitado, e defendendo isso como amor absoluto. Às vezes, é melhor que não nos amem tanto, mas que nos queiram bem, menos quantidade e mais qualidade.

Conta-se a história de uma pessoa que se sentia tão cheia de amor, de dons e de bens que queria dar tudo, absolutamente tudo, pois sua generosidade era imensa. Um dia, ela teve uma experiência de êxtase espiritual, sentiu que podia falar com Deus, e disse: ‘Quero dar tudo aos outros, absolutamente tudo, até a última gota do meu sangue’. Então Deus disse: ‘Que entrem os vampiros’. Conclusão: a respeitosa dança do dar e tomar no relacionamento nutre e fortalece, e afasta de seu santuário interpessoal tanto as tentações de sacrifício e pseudossantidade quanto as de vampirismo e dependência”.

Joan Garriga

(Trecho extraído do livro “O amor que nos faz bem, quando um e um somam mais que dois”)

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